Em 2023 estrearemos um novo espectáculo, a partir do texto de Max Frisch “Biedermann e os incendiários”. O autor suíço cria uma metáfora sobre a chegada do nazismo ao poder e da perplexidade que tal facto criou: cidadãos incautos abrem a porta a vendedores ambulantes e no dia seguinte veem as suas casas em chamas. Tocam à campainha do Sr. Biedermann e é um vendedor ambulante… No seu registo irónico, na sua aparente simplicidade, a alegoria de Biedermann confronta-nos com o facto de a instalação do medo ser o primeiro sintoma das democracias em perigo.
Poderá chocar-nos a inércia, a complacência, o medo de Biedermann perante todas as evidências? E o que faríamos se estivéssemos no seu lugar?
© Carlos Gomes e Teresa Valente
Este projeto, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian e pela Fundação La Caixa no âmbito do Programa Partis & Art for Change, conjuga, durante três anos, a prática teatral com pessoas cegas e de baixa visão e a criação de três espetáculos originais.
A MEU VER juntou O Teatrão e a ACAPO Coimbra neste projeto que, a partir da criação de um núcleo de trabalho dedicado à prática teatral, procurou interferir nas diferentes dimensões das vidas dos seus utentes, tirando partido da complexa e multifacetada relação que a prática cultural pode ter com as transformações do ser humano. Questões associadas à independência e subsistência, à liberdade e aos direitos, identidade e participação cívica foram o subsolo, tapetado pela prática lúdica do teatro, adaptado à condição de quem absorve o mundo com outras “visões”.
Ao juntar o Projeto Pedagógico do Teatrão aos profissionais da ACAPO Coimbra, criou-se uma oficina regular de teatro – SALA DE ENSAIOS, que se desenvolveu com uma equipa artística profissional e multidisciplinar, de onde resultou a produção desta primeira criação – O que é invisível – com estreia e temporada na Oficina Municipal do Teatro.
A par das parcerias nacionais e internacionais, da criação de conhecimento científico, da dimensão de trabalho com as redes sociais e familiares dos participantes, e da formação e intervenção ao nível da acessibilidade cultural na cidade, este é um projeto que pretende tocar em vários campos da Acessibilidade, contribuindo assim para a crescente inclusão cultural.
Ao longo do último ano, os espaços da OMT foram tomados pelo grupo do projeto A Meu Ver. Fizeram deles lugar de chegada e de partida, abrindo espaço para a reconciliação com o sonho e para a recuperação de uma capacidade talvez esquecida, a de imaginar.
Com o que a vida dá e o que o teatro acrescenta, construíram-se narrativas que serão partilhadas numa visita/percurso, sem nunca assumir um compromisso formal com a realidade, mas assumindo-se como um ato de libertação e sobrevivência, que como um fôlego, acontece no momento invisível entre o inspirar da imaginação e o expirar da realidade. — Mariana Nunes e Telmo Ferreira
TÍTULO: O que é invisível
TEXTO: do colectivo
COORDENAÇÃO DO PROJETO: Isabel Craveiro
APOIO À COORDENAÇÃO DO PROJETO: João Santos
DIREÇÃO: Mariana Nunes e Telmo Ferreira
INTERPRETAÇÃO: António Pereira, Armando Sousa, Carla Rodrigues, Carlos Pimentel, Cati Ramos, Eunice Santos, Guida Álvaro, João Cerveira, Maria de Lurdes Acúrcio, Maria Manuela Durão, Mário Cardoso
DESENHO DE LUZ: Jonathan de Azevedo
BANDA SONORA: Nuno Pompeu
FIGURINOS: Filipa Malva
APOIO VOCAL: Cristina Faria
GRAFISMO: Paul Hardman
FOTOGRAFIA: Carlos Gomes
COMUNICAÇÃO: Margarida Sousa
DIREÇÃO DE PRODUÇÃO: Cátia Oliveira
PRODUÇÃO EXECUTIVA: Mariana Pereira
PRODUÇÃO: Teatrão 2022
Jornal Público