© 2025 Teatrão – Companhia de Teatro, Coimbra
Os recursos naturais, tal como os recursos humanos, quando explorados até ao tutano, revoltam-se contra aqueles que os exploram.
O título do espetáculo remete para a palavra de origem alemã “wolfram”, que significa “espuma” ou “baba de lobo”, também usada para designar o volfrâmio. Esta criação resulta do projeto de investigação artística “As Viúvas do Volfrâmio e os seus Filhos”. O processo juntou uma equipa multidisciplinar de Portugal e do Brasil na criação de um espetáculo sobre a herança de um dos mais antigos ofícios do homem – a extração do minério – e sobre a relação entre o ser humano e a natureza.
Dois dramaturgos Mônica Santana (BR) e Sandro William Junqueira (PT) escreveram textos originais, a partir de pesquisas e testemunhos recolhidos de um lado e do outro do Atlântico, que posteriormente foram cruzados entre si e com outros elemento por Graeme Pulleyn (PT) e Marcio Meirelles (BR) que assinam a obra final e também a encenação do espetáculo. A música é de Gongori (PT) e João Milet Meirelles (BR) e o vídeo de Leandro Valente (PT) e Rafael Grilo (BR). Em palco, duas bailarinas/atrizes experientes, Cristina Castro (BR) e Leonor Keil (PT), cruzam sotaques e movimentos numa linguagem performativa inovadora e complexa onde o corpo e a palavra se cruzam para levantar as grandes questões humanas e ambientais que enfrentamos.
O espetáculo junta-se às vozes que questionam, que afirmam e reivindicam, com urgência, a necessidade de olharmos para o passado, para informar o presente e preparar um futuro mais justo para nós e para o sistema ecológico do qual fazemos parte.
M/12
60 minutos
4-10€
26 de junho, 19h
Oficina Municipal do Teatro
info@oteatrao.com
239 714 013 (rede fixa nacional)
912 511 302 (rede móvel nacional)
“O Tempo dos Metais” de Mônica Santana e “Os Filhos de Quarta-feira” de Sandro William Junqueira
Graeme Pulleyn (PT) e Marcio Meirelles (BR)
Cristina Castro (BR) e Leonor Keil (PT)
Gongori e João Milet Meirelles (BR)
Leandro Valente (PT)
Leandro Valente (PT) e Rafael Grilo (BR)
Erik Saboya (BR)
Marcio Meirelles (BR)
Marcos Dedê (BR) e Marcio Meirelles (BR)
Ramon Gonçalves (BR)
CEM Palcos e Teatro Vila Velha
República Portuguesa / DGArtes e Município de Viseu – Eixo Cultura
O Teatro Vila Velha conta com apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura da Bahia.
Município de Moimenta da Beira, Município de São Pedro do Sul, Município do Sátão, Município de Vila Nova de Paiva e Município de Vouzela
ACERT – Tondela, Junta de Freguesia de Bodiosa, União de Freguesias de Barreiros e Cepões, Ana Bento, Clara Spormann, Laura Filipe, Olinda Beja, Úrsula Pinto.
Nos anos 40 do século XX, o volfrâmio na região de Viseu, apareceu como um “milagre económico”, que transformou as existências miseráveis de muitos lavradores, que até então passavam fome a granjear as terras hostis do interior do país, em vidas de luxo e excesso. Poucos terão parado para pensar nas consequências sociais, ambientais e políticas da exploração mineira, ou sobre as razões que levaram, tanto ingleses como alemães, a disputarem avidamente a tão cobiçada “baba do lobo”.
Nos anos 20 do século XXI, os minérios são outros, mas as questões são as mesmas. Portugal tem alegadamente algumas das maiores reservas da Europa de lítio e outros minerais raros. Surgem agora novas “oportunidades” de exploração, justificadas pela promessa de um mundo mais elétrico e eletrónico, e pelas ameaças de um mundo em guerra. Mas será este, de facto, o caminho certo para a sustentabilidade? Do outro lado do mundo, o Brasil conhece bem as dicotomias da exploração dos recursos naturais.
Este debate não é sobre um bairro, ou uma nação, é sobre o mundo em que todos vivemos. Não há como separar a paisagem ecológica e a paisagem humana.
O processo criativo começa com uma “consulta popular”. Como ponto de partida, os escritores encontram-se com comunidades nos diferentes municípios parceiros portugueses, todos eles impactados pelo extrativismo, para recolher testemunhos e histórias de mineiros, mas principalmente das suas mulheres (ou viúvas) e famílias. A comunidade é, assim, uma peça fundamental na concepção e na dramaturgia da peça.
Recolhas de áudio, vídeo e fotografia fornecem um acervo que alimenta a composição da música original, a sonoplastia e os elementos videográficos. Material de arquivo é cruzado com material atual para criar um espetáculo contemporâneo, composto por camadas de sentido, capaz de falar para todos os públicos.
Com poesia e ternura, humor e dureza, raiva e beleza, “A Baba do Lobo” coloca o dedo na ferida e procura provocar a reflexão e a discussão. O passado ensina-nos que cada escolha deixa marcas profundas na paisagem e na vida das comunidades. “A Baba do Lobo” convida a pensar futuros possíveis, a reimaginar a relação com os recursos naturais, onde a procura por soluções sustentáveis é feita com a participação de todos. Só assim, poderemos criar condições para que as próximas gerações não herdem apenas histórias de exploração, mas sim histórias em que o planeta é reconhecido como uma entidade viva.