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Teatrão

© 2025 Teatrão – Companhia de Teatro, Coimbra

29.11.24

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A Matança do Porco do Pai

A Matança do Porco do Pai é uma criação original de Sónia Barbosa que explora as dinâmicas familiares e os complexos rituais de poder e violência enraizados na vida quotidiana. A peça desenrola-se em torno de uma família que vive à sombra de um pai opressor, numa narrativa onde a figura do porco é central, simbolizando as relações de submissão e a violência latente no núcleo familiar. O texto foi escrito partindo de uma pesquisa sobre a tradição da matança do porco, associada às hierarquias de poder e autoridade dentro da família, aos rituais comunitários onde a violência tem um papel importante, e ao choque geracional e cultural vivido nos últimos 30 a 40 anos.

Fotografias

© Estelle Valente

Sobre o processo para a criação do espectáculo

O processo para a criação do espectáculo A Matança do Porco do Pai foi rico e complexo. Passou por um período de entrevistas a diversas pessoas, com quem conversei sobre a tradição da matança do porco – o leitmotiv que guiou esta viagem – mas também sobre as suas memórias de infância, sobre as dinâmicas familiares, que sempre envolvem hierarquias, poder, compromisso, e muitas vezes violência. O pensamento sobre a violência sempre me interessou. Particularmente interessa-me esta zona de sombra onde muitas vezes a violência opera, duma forma extremamente transversal e presente em toda a nossa vivência quotidiana. O propósito é o de iluminar essas zonas de sombra, torná-las visíveis, de modo a podermos mais facilmente elaborar, reflectir, incorporar e, na melhor das hipóteses, agir sobre elas.
Neste processo cabe ainda uma aproximação às minhas próprias memórias, partindo de uma perspectiva individual e subjectiva, que, no entanto, pretende universalizar-se: acolher e abrir espaço para muitas outras perspectivas (as dos espectadores) que se identificam com muitos dos temas, ambientes e situações que aqui se ficcionam.
A Matança do Porco serve como ambiente metafórico onde muitas coisas ressoam como parte de nós. Essas coisas podem ser contraditórias. A matança é ao mesmo tempo violência e celebração; modo de sobrevivência mas também prática de alguma forma questionável; faz-nos reflectir sobre a importância da vida comunitária e a falta que ela nos pode fazer; evoca um tempo onde muitas coisas nos pareciam melhores, mas que tantas outras eram seguramente piores.
Num tempo de transição, de mudança de paradigma, onde os nossos modos de vida têm cada vez menos pontos de contacto com aqueles dos nossos Avós, reflectir sobre isto é tentar religar fios entre o passado e o futuro, com a convicção de que esquecermos de onde viemos nunca nos ajudou a decidir melhor para onde iremos.
O espectáculo é a súmula de tudo isto, com a sua natureza, a sua forma, os seus corpos, a sua densidade, os seus ambientes (emocionais, visuais, sonoros, espaciais), fruto do trabalho imenso duma equipa maravilhosa que, em conjunto, vos quer contar uma história.

— Sónia Barbosa
(a autora escreve segundo o antigo AO)

Em memória de Jorge Fraga