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Teatrão

© 2025 Teatrão – Companhia de Teatro, Coimbra

29.11.24

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Bora Lá Laborar!

Sinopse
Bora Lá Laborar! convoca-nos para uma animada reflexão sobre o lugar do trabalho. Afinal, para que é que trabalhamos? Para que serve o trabalho? Porque é que, para a maioria das pessoas adultas, a vida se organiza à volta do trabalho? Estas interrogações podem interpelar qualquer pessoa, mas desassossegam-nos mais em certas fases da vida. Por isso, este espetáculo é dedicado a todas e a todos os que poderão estar a viver um desses momentos. Construtor da subjetividade e organizador da sociedade, o trabalho ocupa um lugar central no mundo humano. Este nosso labor é feito de ideias, de danças, de músicas, de palavras, de canções, de corpos, de máquinas e de tantas outras coisas. Bora lá laborar?

Fotografias

© Susana Neves

Sobre o espetáculo

Bora Lá Laborar! é uma expressão que não se usa, pelo menos não conhecemos ninguém que a use. Descobrimo-la, ou inventámo-la atraídos pela sua sonoridade circular e sobressaltada, como o funcionamento de algumas máquinas. Bora Lá Laborar! quer dizer: “vamos ao trabalho!” ou, em inglês, “let’s work”, “au boulot!/au travail!” em francês… supomos que em quase todas as línguas modernas deve existir uma coisa assim – o trabalho é uma condição universal do humano, mesmo para aqueles que não trabalham. Aqui, laborar significa também pensar coletivamente, em voz alta e com o corpo. Bora Lá Laborar! é pois um projeto em que se procura uma reflexão na forma de teatro sobre o lugar do trabalho nas nossas vidas enquanto sociedades e indivíduos.

Para que é que trabalhamos?
Para ganhar a vida?
Para ganhar dinheiro?
Para que serve o trabalho que milhares de milhões de humanos no mundo inteiro a todo o instante realizam?
Será que poderia ser de outra forma?
Porque é que a tanta gente custa sair da cama para ir trabalhar – será que são preguiçosos, ou haverá mesmo algum problema?
Será que a preguiça é um problema?
Será mesmo que o trabalho dá saúde ou liberta?
Haverá trabalho para todos num sistema produtivo cada vez mais automatizado?
E, se não houver, o que acontecerá com todos que veem suprimido o seu direito ao trabalho?
Mas o trabalho é um direito ou um dever?
E os velhos, não deviam também trabalhar?
E já agora, as crianças – a escola é trabalho?
Então e os trabalhos de casa?
E as mulheres, porque é que tantas vezes ganham menos pelo mesmo trabalho?
Pois, e o trabalho de parto? Sim, mas o que é que nasce do trabalho?
Ufa, que grande trabalheira! E ainda agora começámos…

Estas são algumas das imensas questões sobres as quais laborámos ao longo do processo de criação e que, de uma forma ou de outra, encontraram o seu caminho no espetáculo.

Bora Lá Laborar! é um espetáculo em que, se nos orientarmos pelas disciplinas e linguagens artísticas que são convocadas, cruza a performance com objetos e matérias, o teatro físico e visual e o teatro da palavra que convive aqui com canções e histórias contadas, na boa tradição brechtiana que o tema em causa não podia ignorar. As lógicas da televisão, do cinema e dos novos media também têm o seu lugar nesta proposta.

A peça tem como elemento central uma estrutura cenográfica que evoca o edifício industrial enquanto ícone de um tempo e dispositivo que organiza o espaço e condiciona corpos e linguagens. Este espaço reage como uma máquina e é ele próprio animado no convívio com as duas gerações de performers. Existe também uma matéria que é omnipresente: são aparas de poliestireno verde (ou azul, dependendo da sensibilidade à cor de cada pessoa). Esta matéria evoca simultaneamente várias coisas – o subproduto de algo que foi manufaturado, o resultado de um processo de acumulação, um oceano de possibilidades, um processo histórico em curso…

Desejou-se com este projeto criar um espetáculo para todo o público a partir dos 12 anos, o que inclui naturalmente os adultos, mas também o público escolar e familiar. Apesar deste desejo de abrangência, a peça é particularmente atrativa para as pessoas que estão no limiar da chamada vida adulta, na expectativa da entrada no mercado de trabalho e da estruturação da sua vida em torno dessa realidade futura. Procurámos, também por estas razões, um justo equilíbrio entre a densidade da reflexão e uma certa dimensão lúdica que as linguagens que convocamos também proporcionam. Afinal de contas, também se fala a sério a brincar.

Sobre a companhia

O Teatro de Ferro surgiu em 1999 com direção artística de Carla Veloso e Igor Gandra. O nome – Teatro de Ferro – pressupõe uma noção de matéria primordial resistente e ao mesmo tempo mutável: um processo de transformação que continua a ser inspirador. O trabalho da companhia tem sido desenvolvido principalmente no campo do teatro de marionetas e objetos – inscreve-se uma lógica de investigação em que a marioneta assume um valor matricial nas suas hibridações possíveis, tentadas e tentadoras. As relações do corpo-intérprete com o objeto-mundo manipulado e a implicação de cada espectador na construção desta relação são linhas de reflexão transversais à extensa prática artística do Teatro de Ferro.